For the English version, click here.
market place with a wheel barrow in the foreground

Conceitualizando e Praticando Solidariedade através da Agroecologia

Ahmad El-Arab

2022

Introdução

No último dia da entrevista agendada pelo meu grupo de investigação, visitamos a proprietária da Escola de Agroecologia Margarida Alves, Dona Janira. Após a nossa entrevista, ela solicitou que voltássemos à sua fazenda na semana seguinte para praticar o Mutirão, o que se traduz em 'esforço colectivo', com ela. Aceitamos de bom grado, e na semana seguinte ajudamos-a na colheita das sua plantação, preparando-a, e cozinhando-a para fazer uma refeição utilizando exclusivamente o que colhemos coletivamente. Após o nosso almoço, ela explicou que o objetivo da refeição era "...mostrar como a agroecologia é um esforço de grupo, [porque] nenhum indivíduo pode fazer isto, requer um esforço comunitário". Ela deu um sorriso enérgico ao dizer-nos enfaticamente "O meu sonho é ter um mutirão para tudo". Ela riu ao dar um exemplo hipotético de utilização de um mutirão para dar uma festa surpresa a Paulo, o tutor e tradutor do meu grupo. Ela detalhou como cada um de nós discutiria o que trazer, como convidaríamos a comunidade, como um agricultor vizinho passaria para conversar conosco, e como pensaríamos uma forma de usar as suas galinhas para a festa. Ela brincou sobre como tal ocasião seria um grande momento para todos, exceto talvez para as galinhas.

Quando comecei o meu trabalho de campo na Costa do Cacau, estava inicialmente interessado em analisar as preocupações de competitividade que os agroecologistas desta região estão enfrentando. Contudo, o que rapidamente percebi foi que para os agroecologistas que entrevistamos, a competitividade não era o seu foco central, mas sim conceitos tais como auto-sustentação, independência, colaboração, e solidariedade.  Este artigo procura ilustrar o quanto é importante o conceito de solidariedade para os agroecologistas locais que entrevistamos. Em primeiro lugar, este documento irá explicar como a solidariedade é conceitualizada para os locais com os quais falamos. Em seguida, este artigo detalhará como a agroecologia praticou e fortaleceu a solidariedade através do esforço coletivo e da organização horizontal.

Metodologia

Esta análise se baseia em três semanas de trabalho de campo em Serra Grande e Ilhéus, Bahia, como parte do curso de pesquisa de campo, estudando a liderança local e as mudanças sociais na Costa do Cacau no Brasil. Com foco em agroecologia, visitei oito locais separados com outros três alunos para estudar a importância que a agroecologia tem para aqueles que a praticam e os desafios que enfrentam. O trabalho de campo envolveu visitas guiadas por espaços agroecológicos, uma abordagem prática da agricultura e jardinagem agroecológica, e doze entrevistas informais e discussões em grupo com agroecologistas, agricultores orgânicos, pessoas locais, educadores e líderes comunitários. Durante meu trabalho de campo, fui guiado por um especialista local em agroecologia, Paulo, que serviu como tutor e tradutor para minhas entrevistas. Como resultado, as citações neste artigo derivam em grande parte das traduções em inglês que recebi de Paulo durante as entrevistas. As entrevistas e visitas ao local não foram selecionadas aleatoriamente, mas sim curadas por Paulo através de relacionamentos que ele havia desenvolvido. Embora o caráter breve e a curadoria de minha pesquisa significasse que eu era incapaz de identificar pessoalmente os entrevistados e desenvolver relações com eles individualmente, esta abordagem me proporcionou a oportunidade de falar com indivíduos com forte formação em agroecologia em um ambiente de grupo dinâmico. Como resultado, este trabalho terá como foco as experiências compartilhadas pelos agroecologistas e membros da comunidade que entrevistamos para explorar como a solidariedade é conceitualizada, e como a agroecologia é entendida como um meio de construir a solidariedade.

Uma conceitualização agroecológica da solidariedade

A agroecologia pode ser definida como uma prática agrícola de pequena escala na qual os agricultores e/ou jardineiros cultivam culturas juntamente com perenes lenhosas em policulturas (Sagastuy & Krause, 2019). Entretanto, uma mensagem comum que foi repetida durante todas as entrevistas que tive com agroecologistas foi que a agroecologia não é apenas um método de produção. Durante nossa primeira visita ao local na Serra Grande Botanical Garden Trail, o gerente do projeto, Nilson, afirmou "a agroecologia é uma filosofia, um modo de vida; ela está reconhecendo as relações sobre o extrativismo". Mais tarde, naquele dia, entrevistamos uma proeminente líder comunitária e ativista social em Serra Grande, Dona Jô. Ela falou sobre como a agroecologia é uma filosofia sinérgica que abraça a economia solidária, a soberania alimentar e as atividades de base comunitária. Da mesma forma, muitos dos agroecologistas que falamos com agroecologia associada a outros conceitos importantes, tais como resistência, independência e colaboração. Embora estes conceitos mereçam uma análise igualmente detalhada, este artigo terá como foco principalmente o valor da solidariedade econômica para os agroecologistas que entrevistamos e como ela se expressa em sua prática.  

Para contexto, a política estatal baiana tem sido historicamente uma política que exclui os pequenos agricultores, particularmente os agricultores marginalizados que utilizam práticas agrícolas tradicionais, e ao invés disso apóia o interesse dos grandes proprietários de terras (Watkins, 2021). Por exemplo, Dona Janira discutiu como uma das razões pelas quais ela iniciou uma escola de agroecologia na Costa do Cacau rural é porque "as populações com as quais trabalhamos eram clandestinas aos olhos do Estado". É por esta razão que Dona Jô afirmou: "Não contamos com o setor público e as políticas, elas não ajudam, elas ajudam os capitalistas, então criamos nossa própria maneira de sobreviver". Para ela, a solidariedade econômica é um meio de abordar as discrepâncias sociais na economia local, é como se pode construir comunidades marginalizadas para se tornar mais independentes. Implícito nesta conceituação está então que a solidariedade econômica não é simplesmente algo que pode ser obtido, é algo que requer prática contínua para atingir seu objetivo de enfrentar as injustiças sociais.

Alguns dias mais tarde, tivemos a oportunidade de entrevistar uma educadora local, Camilla. Camilla discutiu amplamente seu papel no ensino da importância da agroecologia para as crianças pequenas. Ela definiu a solidariedade como o "princípio de colaboração que existe na natureza", em que "precisamos aprender como obter solidariedade econômica analisando como a natureza distribui os recursos". A noção de modelagem da organização humana baseada na natureza não era exclusiva de Camilla. Na semana seguinte, meu grupo foi guiado pela reserva florestal Alto da Esperança, onde fomos guiados por nosso tutor Paulo. Ao longo do caminho guiado, Paulo procurou ilustrar como a agroecologia procura replicar a organização encontrada nas florestas, que ele chama de uma economia baseada na natureza. Para ele, o sistema natural é aquele onde cada espécie tem uma função diferente, onde cada parte da floresta ajuda a outra de forma descentralizada. Ele afirma que para que os humanos se organizem de tal forma, seria necessário "confiança, colaboração e um senso de comunidade". Notavelmente, tal conceituação de organização econômica contrasta as suposições comportamentais encontradas dentro da economia clássica, na qual o foco do indivíduo é se especializar, competir e crescer continuamente. Entendi esta economia baseada na natureza como uma economia que promove a colaboração, a independência e a auto-suficiência como um meio de construir a solidariedade econômica semelhante ao que Camilla descreveu.

De fato, descobri que tal sistema é o objetivo para os agroecologistas com quem falamos, um objetivo que se reflete na forma como eles praticam a agroecologia. Ao se comprometerem a ser independentes, auto-suficientes e colaborativos, os agroecologistas procuram construir a solidariedade econômica. Particularmente, descobri que a importância da solidariedade se reflete através do uso do esforço coletivo na agricultura agroecológica, e através da forma como os agroecologistas buscam expandir sua rede.

Praticando a solidariedade através do mutirão

Tanto através de minha experiência prática no trabalho com agroecologistas como através das entrevistas que realizamos, senti que a importância da solidariedade foi muito enfatizada dentro da prática agroecológica. O exemplo mais notável que ilustrou a importância da solidariedade foi nosso segundo dia de entrevistas, onde visitamos duas fazendas familiares agroecológicas que eram membros do núcleo de Povos da Mata na Serra Grande. Povos da Mata é uma rede agroecológica que busca ser uma referência para produzir, consumir e vender alimentos de forma limpa, justa e solidária (Povos da Mata, n.d.b).  

Uma das fazendas que visitamos pertencia a um agricultor afro-brasileiro chamado Pajé. Pajé detalhou sua experiência de vida anterior trabalhando em grandes fazendas de cacau. Apesar de ter muitas experiências em fazendas de grande escala, Pajé descobriu que essas fazendas nunca lhe proporcionaram a habilidade necessária para desenvolver sua própria terra. Depois de ficar cansado das terríveis condições de trabalho e do uso perigoso de pesticidas, ele decidiu deixar a plantação e concentrar-se no desenvolvimento de sua própria fazenda. Entretanto, ele não tinha certeza de como cultivar sua terra, e o uso excessivo de pesticidas, um hábito que aprendeu com as plantações, acabou levando à presença de uma erva daninha forte que dificultava o cultivo. Foi apenas uma vez que ele desenvolveu uma relação com seus vizinhos, agroecologistas chamados Juan e Gili, que as coisas começaram a mudar gradualmente. Eles o apresentaram aos Povos da Mata, e lhe ensinaram técnicas e práticas agroecológicas, inclusive como se afastar dos agrotóxicos. Através dos Povos da Mata, eles começaram a financiar uma nova casa para sua terra, a comunidade reuniu os recursos necessários e iniciaram um mutirão, ou "esforço coletivo", para ajudar a construir sua casa. Como meu grupo não estava familiarizado com o conceito de 'mutirão', Juan e Gili nos explicaram que um mutirão é um dia designado em que a comunidade se reúne para ajudar um indivíduo com um projeto, tradicionalmente seguido por uma festa comemorativa. Eles explicaram que o mutirão é freqüentemente utilizado na agricultura agroecológica, pois há muitas coisas que simplesmente não podem ser tratadas sozinhas, seja na construção de uma casa, na agricultura, ou na assistência técnica.

Através dos esforços da comunidade, a fazenda do Pajé se desenvolveu gradualmente, e agora seu objetivo é a completa auto-suficiência: "Meu sonho é trabalhar em minha fazenda com minha família, obtendo de lá toda minha comida, sem ter que comer nada que venha de fora que sabemos ter produtos químicos, porque queremos comer orgânicos de nossa terra". Notavelmente, quando lhe perguntei quais são as barreiras que impedem outros de fazer o que ele faz, ele listou três fatores "[acesso] a bons amigos, comunidade, e um pedaço de terra". Embora seu objetivo seja atingir a auto-suficiência, Pajé também reconheceu a importância de aceitar a ajuda da comunidade com a fazenda e de participar do mutirão para os outros, por sua vez. Mesmo que o objetivo para estes agricultores seja atingir a auto-suficiência, isto não os exclui de utilizar o mutirão.

Um ponto comum compartilhado pelos agricultores com quem falamos é que a natureza da agricultura agroecológica é muito difícil de lidar por conta própria, especialmente quando comparada aos métodos convencionais de cultivo. Pajé caracterizou a agricultura convencional em pequena escala como "alta rentabilidade a curto prazo, mas [não] benéfica a longo prazo", referindo-se à sua experiência vendo as fazendas convencionais eventualmente perderem sua fertilidade. Em contraste, ele descreve a agroecologia como tendo um início lento para ser auto-sustentável, com ele descrevendo o trabalho como "cansativo" e exigindo "trabalho constante".  Da mesma forma, Juan expressou que devido à localização remota da fazenda e aos desafios na construção de uma fazenda agroecológica a partir do solo, atividades como o mutirão são necessárias. Entendi através desta discussão que embora seu objetivo seja a auto-suficiência e independência, tal objetivo exigiria manutenção constante. Como resultado, o mutirão será continuamente utilizado para manter a auto-suficiência, o que, por sua vez, constrói continuamente o senso de solidariedade da comunidade. Portanto, o esforço coletivo não é excluído na construção ou manutenção da auto-suficiência. Através de minha experiência participando de um mutirão com Dona Janira, onde ela exclamou seu sonho de ter um mutirão para tudo, eu entendi que este tipo de atividade coletiva não é apenas um meio para um fim, mas um fim em si mesmo. O mutirão não é simplesmente uma ferramenta necessária para construir a própria fazenda, ou para enfrentar os desafios encontrados na agricultura agroecológica, é uma experiência que aproxima as pessoas e cria um ambiente colaborativo. Este ambiente colaborativo que encontrei foi uma maneira pela qual os agroecologistas construíram a solidariedade econômica.

Expandindo a solidariedade através do trabalho horizontal

Um dia, minha turma visitou a Fazenda Juerana, uma fazenda de cacau orgânico, onde meu grupo aproveitou a oportunidade para entrevistar um dos fazendeiros empregados lá, chamado Raimundo. Ele explicou os desafios que eles enfrentam ao solicitar e receber uma certificação orgânica de uma empresa terceirizada de certificação, o que foi crucial para que eles ganhassem uma vantagem competitiva no atendimento da demanda econômica e se tornassem lucrativos. Paulo aproveitou esta oportunidade para contrastar como a agroecologia é diferente da agricultura orgânica convencional:

"A agroecologia é sobre... trabalhar horizontalmente e ser independente". Em contraste, o comércio justo e a agricultura orgânica, embora boa para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores, ainda tem a estrutura corporativa que a agroecologia é filosoficamente contra".

Receber uma certificação orgânica é igualmente importante para os agroecologistas que entrevistamos em Povos da Mata. No entanto, eles também valorizam a forma como obtiveram essa certificação, um sistema ao qual se referem como "certificação participativa".  Para receber uma certificação orgânica de Povos da Mata, que recebeu autoridade estatal para conceder a certificação, um agricultor precisará primeiro ser aceito em um grupo pertencente a um dos "núcleos" da rede, que funciona como uma unidade operacional para cada região. Quando o grupo se familiarizar com o agricultor e seu método de produção, ele poderá ser aceito nesse grupo, após o que todo o grupo será auditado pelo comitê de verificação do núcleo para certificação. Uma vez que o grupo receba sua certificação orgânica, ele fará visitas periódicas a outros grupos para troca de conhecimentos e informações (Povos da Mata, n.d.a). Juan descreveu este sistema como um sistema no qual "o povo certifica o povo".

Acredito que o sistema de certificação participativa é um meio pelo qual os agroecologistas de Povo da Mata praticam a solidariedade. Cada passo envolve o engajamento ativo de seus membros, desde os membros do grupo que se contactam e desenvolvem relações com membros mais novos, até grupos que interagem e trocam conhecimentos e experiências uns com os outros.  A natureza da certificação participativa e do sistema de núcleo é assegurar que a organização permaneça 'horizontal', descentralizada e baseada na comunidade. Através da certificação horizontal, a organização procura expandir seus membros e construir uma rede maior de interdependência. Isto contrasta com os métodos mais convencionais de certificação onde as fazendas apelam para uma empresa independente, tipicamente maior, para auditar e certificar a fazenda com um selo orgânico. Para Dona Janira, tal método de certificação é problemático, já que ela o experimentou como uma forma através da qual as grandes empresas podem se apropriar do rótulo orgânico e usá-lo para excluir fazendas menores como a dela do processo. Onde o mutirão é um meio de fortalecer as relações, a certificação horizontal é um meio através do qual os agroecologistas podem expandir sua rede em um ambiente colaborativo. Portanto, a certificação participativa serve como um meio para que essas pequenas fazendas mantenham essa característica pessoal, construindo uma rede e criando interdependência em nível comunitário. Como Camilla descreveu, a construção de tal rede através da colaboração é um princípio central de solidariedade.

Conclusão

As fazendas agroecológicas trabalham com sistemas complexos, e muito esforço é dedicado ao aprendizado desses sistemas a fim de serem independentes e auto-sustentáveis (Sagastuy & Krause, 2019). Isto é significativamente diferente da ênfase microeconômica clássica em papéis especializados, onde um indivíduo é incentivado a se especializar em um produto ou tarefa para maximizar a produção.  A agroecologia conta com esta forma de pensar, para que um agricultor seja auto-sustentável, ele deve estar familiarizado com todos os tipos de culturas e administrar todos os aspectos de sua fazenda. Para superar tal desafio, a colaboração e o esforço coletivo com a comunidade é fundamental. Da mesma forma, através de organizações participativas e esquemas de certificação horizontal, os agroecologistas estão procurando expandir sua rede e construir ainda mais um ambiente solidário para suas comunidades. Para os agroecologistas com quem falei, há um valor inerente no trabalho colaborativo e na participação ativa em um sistema centrado na comunidade. Tais atividades demonstram que a solidariedade econômica é um modo de atuação, na medida em que envolve o engajamento ativo de seus membros da comunidade para participar de atividades coletivas.

Este artigo procura destacar algumas das formas pelas quais a agricultura agroecológica pode contribuir e construir a solidariedade dentro de uma comunidade. Também procura ilustrar como os pressupostos clássicos de comportamento econômico, tais como "especialização", "competitividade" e "crescimento", são filosoficamente rejeitados pelo pensamento agroecológico para "independência", "colaboração" e "auto-suficiência". Estes conceitos são entendidos pelos agroecologistas como um meio de enfrentar os desafios econômicos enfrentados por comunidades remotas na Costa do Cacau e são continuamente aplicados na prática agroecológica. Em uma região que sofreu a devastação econômica da doença da vassoura da bruxa (Evans, 2016) e tem sido amplamente ignorada pelas políticas públicas, a solidariedade tem sido interpretada por nossos entrevistados como um meio de sobrevivência e subsistência. Entretanto, é importante notar que há limitações na capacidade da agricultura agroecológica de atender a essas necessidades. Uma barreira notável mencionada por alguns de nossos entrevistados é que o pré-requisito de ter acesso à propriedade privada para construir a solidariedade apresenta-se como um obstáculo no sentido de que exclui aqueles que não têm esse acesso. Portanto, enquanto a agroecologia busca construir a solidariedade dentro de uma comunidade, ela não seria o único meio de alcançá-la. No entanto, a agroecologia tem demonstrado que é uma abordagem para construir solidariedade dentro de uma comunidade e apoiar aqueles que foram marginalizados socioeconomicamente.

Referências

Evans, H.C. (2016). Witches’ Broom Disease (Moniliophthora perniciosa): History and Biology. In Cacao Diseases (pp. 137–177). Springer International Publishing. https://doi.org/10.1007/978-3-319-24789-2_5

Povos Da Mata. (n.da) A certificação. REDE DE AGROECOLOGIA POVOS DA MATA. https://povosdamata.org.br/o-que-fazemos/como-fazer/

Povos Da Mata. (n.db) Missão e Visão. REDE DE AGROECOLOGIA POVOS DA MATA. https://povosdamata.org.br/sobre-rede/missao-e-visao/

Sagastuy, M., & Krause, T. (2019). Agroforestry as a Biodiversity Conservation Tool in the Atlantic Forest? Motivations and Limitations for Small-Scale Farmers to Implement Agroforestry Systems in North-Eastern Brazil. Sustainability (Basel, Switzerland), 11(24), 6932–. https://doi.org/10.3390/su11246932

Watkins, C. (2021). Palm oil diaspora: Afro-Brazilian landscapes and economies on Bahia’s Dendê Coast. Cambridge University Press.



Conceptualizing and Practicing Solidarity through Agroecology

Ahmad El-Arab

2022

Introduction

On the last day of my research group’s scheduled interview, we visited the owner of the Margarida Alves Agroecology School, Dona Janira. After our interview, she requested we return to her farm the following week to practice Mutirão, which translates to ‘collective effort’, with her. We gladly accepted, and the following week we assisted her in harvesting her crops, preparing them, and cooking them to prepare a meal using exclusively what we collectively harvested. Following our lunch, she explained that the purpose of the meal was “…to show how agroecology is a group effort, [because] no individual can do this, it requires a community effort.” She gave an energetic smile as she emphatically told us “My dream is to have a mutirão for everything.” She laughed as she provided a hypothetical example of using a mutirão to throw a surprise party for Paulo, my group’s tutor and translator. She detailed how we would each discuss what to bring, how we would invite the community, how a neighbouring farmer would walk by to chat with us, and how we would plot a way to use his chickens for the party. She joked about how such an occasion would be a great time for everyone, except for perhaps the chickens.

When I first began my fieldwork in the Cocoa Coast, I was initially interested in analyzing the competitiveness concerns that agroecologists in this region are facing. However, what I quickly realized was that for the agroecologists we interviewed, competitiveness was not their central focus, rather it was concepts such as self-sustenance, independence, collaboration, and solidarity. This paper seeks to illustrate how critical the concept of solidarity is for the local agroecologists we interviewed. First, this paper will explain how solidarity is conceptualized for the locals we spoke with. Following which, this paper will detail how agroecology practiced and strengthened solidarity through collective effort and horizontal organization.

Methodology

This analysis draws on three weeks of fieldwork in Serra Grande and Ilhéus, Bahia, as part of field-research course studying local leadership and social change in Brazil’s Cocoa Coast. With a focus on agroecology, I visited eight separate sites with three other students to study the importance agroecology holds to the those who practice it and the challenges they are facing. Fieldwork involved guided tours through agroecological spaces, a hands-on approach to agroecological farming and gardening, and twelve informal interviews and group discussions with agroecologists, organic farmers, local people, educators, and community leaders. Throughout my fieldwork, I was guided by a local expert in agroecology, Paulo, who served as both a tutor and translator for my interviews. As a result, the quotes in this paper largely derive from the English translations I received from Paulo during interviews. The interviews and site visits were not randomly selected, but rather curated by Paulo through relationships he had developed. While the brief and curated nature of my research meant that I was unable to personally identify interviewees and develop relationships with them individually, this approach provided me the opportunity to speak with individuals with strong backgrounds in agroecology in a dynamic group environment. As a result, this paper seeks to focus on the experiences shared by the agroecologists and community members we interviewed to explore how solidarity is conceptualized, and how agroecology is understood as a means of building solidarity.

An agroecological conceptualization of solidarity

Agroecology can be defined as a small-scale agricultural practice in which farmers and/or gardeners grow crops along with woody perennials in polycultures (Sagastuy & Krause, 2019).

However, a common message that was repeated throughout all the interviews I had with agroecologists was that agroecology is not just a production method. During our first site visit at the Serra Grande Botanical Garden Trail, the project manager, Nilson, stated “agroecology is a philosophy, a way of life; it is recognizing relationships over extractivism.” Later that day, we interviewed a prominent community leader and social activist in Serra Grande, Dona Jô. She spoke about how agroecology is a synergetic philosophy that espouses economia solidária (economic solidarity), soberania alimentar (food sovereignty), and community-based activities. Likewise, many of the agroecologists we spoke with associated agroecology with other important concepts, such as resistance, independence, and collaboration. While these concepts deserve equally detailed analysis, this paper will primarily focus on the value of economic solidarity for agroecologists we interviewed and how it is expressed in their practice.

For context, Bahian state policy has historically been one that excludes small-scale farmers, particularly marginalized farmers using traditional agricultural practices, and instead supports the interest of large land-owners (Watkins, 2021). For example, Dona Janira discussed how one of the reasons she started an agroecology school in the rural Cocoa Coast is because “the populations we worked with were clandestine in the eyes of the state.” It is for this reason that Dona Jô claimed “We do not count on the public sector and policies, they do not help, they help the capitalists, so we create our own way of surviving.” For her, economic solidarity is a means of addressing the social discrepancies in the local economy, it is how one can build up marginalized communities to become more independent. Implicit in this conceptualization then is that economic solidarity is not simply something which can be obtained, it is something that will continually require practice in order to achieve its goal of addressing social injustices.

A few days later, we were given the opportunity to interview a local educator, Camilla. Camilla largely discussed her role in teaching the importance of agroecology to young children. She defined solidarity as the “principle of collaboration that exists in nature,” in that “we need to learn how to get economic solidarity by looking at how nature distributes resources.” The notion of modelling human organization off of nature was not unique to Camilla. The following week my group was guided through the Alto da Esperança forest reserve, where we were guided by our tutor Paulo. Throughout our guide, Paulo sought to illustrate how agroecology seeks to replicate the organization found in forests, which he calls a nature-based economy. To him, the natural system is one where every species has a different function, where each part of the forest helps the other in a decentralized way. He claims that for humans to organize in such a way, it would require “trust, collaboration, and a sense of community.” Notably, such a conceptualization of economic organization contrasts the behavioural assumptions found within classical economics, in which the focus of the individual is to specialize, compete, and continually grow. I understood this nature-based economy as one that promotes collaboration, independence, and self-sufficiency as a means of building economic solidarity akin to what Camilla described.

Indeed, I found that such a system is the goal for the agroecologists we spoke with, a goal that is reflected in the way they practice agroecology. By committing themselves to being independent, self-sufficient, and collaborative, the agroecologists seek to build up economic solidarity. Particularly, I found that the importance of solidarity is reflected through the use of collective effort in agroecological farming, and through the way in which agroecologists seek to expand their network.

Practicing solidarity through mutirão

Through both my hands-on experience working with agroecologists and through the interviews we conducted, I felt that the importance of solidarity was very much highlighted within agroecological practice. The most notable example that illustrated the importance of solidarity was our second day of interviews, where we visited two agroecological family farms that were members of the Povos da Mata nucleus in Serra Grande. Povos da Mata is an agroecological network that seeks to be a reference for producing, consuming, and selling food in a clean, fair, and solidary way (Povos da Mata, n.d.b).

One of the farms we visited belonged to an Afro-Brazilian farmer named Pajé. Pajé detailed his previous life experience working on large-scale cacao farms. Despite having many experiences on large-scale farms, Pajé found that these farms never provided him with the skill necessary to develop his own land. After growing tired of the terrible working conditions and the dangerous use of pesticides, he decided to leave the plantation and focus on developing his own farm. However, he was unsure how to cultivate his land, and the overuse of pesticides, a habit he learned from the plantations, eventually lead to the presence of a strong weed which hindered cultivation. It was only once he developed a relationship with his neighbours, agroecologists named Juan and Gili, did things gradually begin to change. They introduced him to the Povos da Mata, and taught him agroecological techniques and practices, including how to shift away from pesticides. Through Povos da Mata, they started crowdfunding a new house for his land, the community gathered the necessary resources, and they initiated a mutirão, or ‘collective effort’, to help build his house. Because my group was unfamiliar with the concept of ‘mutirão’, Juan and Gili explained to us that a mutirão is a designated day in which the community gathers to assist an individual with a project, traditionally followed by a celebratory feast. They explained that mutirão are frequently used in agroecological farming, as there are many things that simply cannot be handled alone, whether it be building a house, farming, or technical assistance.

Through the community’s efforts, Pajé’s farm gradually developed, and now his goal is complete self-sufficiency: “My dream is to work on my farm with my family, getting all my food from there, without having to eat anything that comes from outside that we know has chemicals, because we want to eat organic from our land.” Notably, when I asked him what are the barriers that stop others from doing what he does, he listed three factors “[access to] good friends, community, and a piece of land.” While his goal is to attain self-sufficiency, Pajé also recognized the importance of accepting the community’s help with the farm and partaking in mutirão for others in turn. Even if the goal for these farmers is to attain self-sufficiency, this does not exclude them from utilizing mutirão.

A common point shared by the farmers we spoke with is that the nature of agroecological farming is very difficult to handle on their own, especially when compared to conventional methods of farming. Pajé characterized small-scale conventional farming as “high returns in the short run, but [not] beneficial in the long run,” referencing his experience seeing conventional farms eventually lose their fertility. In contrast, he describes agroecology as having a slow start towards being self-sustaining, with him describing the work as “grueling” and requiring “constant work.” Likewise, Juan expressed that because of the farm’s remote location, and the challenges in building an agroecological farm from the ground up, activities like the mutirão are necessary. I understood through this discussion that while their goal is self-sufficiency and independence, such a goal would require constant maintenance. As a result, mutirão will continuously be used to maintain self-sufficiency, which in turn continuously builds the community’s sense of solidarity. Therefore, collective effort is not excluded in building or maintaining self-sufficiency. Through my experience partaking in a mutirão with Dona Janira, where she exclaimed her dream of having a mutirão for everything, I understood that these kinds of collective activity are not just a means to an end, but an end in itself. Mutirão is not simply a necessary tool for building one’s farm, or addressing the challenges found in agroecological farming, it is an experience that brings people together and creates a collaborative environment. This collaborative environment I found was one way through which the agroecologists built economic solidarity.

Expanding solidarity by working horizontally

One day my class visited the Fazenda Juerana, an organic cocoa farm, where my group took the opportunity to interview one of the farmers employed there, named Raimundo. He explained the challenges they face in applying for and receiving an organic certification from a reputable third-party certification company, which was crucial for them to gain a competitive advantage in meeting economic demand and becoming profitable. Paulo took this opportunity to contrast how agroecology is different from conventional organic farming:

“Agroecology is about…working horizontally and being independent. In contrast, fair trade and organic farming, while good for improving working conditions and the quality of life for the workers, still has the corporate structure that agroecology is philosophically against.”

Receiving an organic certification is similarly important for the agroecologists we interviewed in Povos da Mata. However, they also value the way in which they obtained that certification, a system they refer to as “participatory certification.” In order to receive an organic certification from Povos da Mata, which received state authority to grant certification, a farmer will first need to be accepted into a group belonging to one of the network’s “nucleus,” which functions as an operational unit for each region. Once the group grows familiar with the farmer and his method of production, he can be accepted into that group, following which the entire group will be audited by the nucleus’ verification committee for certification. Once the group receives their organic certification, they will then make periodic visits to other groups for exchanging knowledge and information (Povos da Mata, n.d.a). Juan described this system as one in which “the people certify the people.”

I find that the participatory certification system is a means through which the agroecologists of Povo da Mata practice solidarity. Each step involves active engagement from its members, from group members outreaching and developing relationships with newer members, to groups interacting and exchanging knowledge and experiences with one another. The nature of participatory certification and the nucleus system is to ensure the organization remains ‘horizontal’, decentralized, and community-based. Through horizontal certification, the organization seeks to expand its members and build a larger network of interdependence. This contrasts with the more conventional methods of certification where farms appeal to an independent, typically larger company to audit and certify the farm with an organic label. For Dona Janira, such a method of certification is problematic, since she has experienced it as a way through which big companies can appropriate the organic label and use it to exclude smaller farms like hers from the process. Where mutirão is a means of strengthening relations, horizontal certification is a means through which agroecologists can expand their network in a collaborative environment. Therefore, participatory certification serves as a way for these small-scale farms to retain that personal quality by building a network and creating interdependence at the community level. As Camilla described, building such a network through collaboration is a core principle of solidarity.

Conclusion

Agroecological farms work with complex systems, and much effort is devoted to learning these systems in order to be independent and self-sustaining (Sagastuy & Krause, 2019). This is significantly different from the classical microeconomic emphasis on specialized roles, where an individual is incentivized to specialize in one product or task to maximize production. Agroecology counters this way of thinking, for a farmer to be self-sustaining, he must be familiar with all kinds of crops and manage all aspects of his farm. In order to overcome such a challenge, collaboration and collective effort with the community is critical. Likewise, through participatory organizations and horizontal certification schemes, agroecologists are seeking to expand their network and further build a solidary environment for their communities. For the agroecologists I spoke with, there is an inherent value in collaborative work and active participation in a community-centered system. Such activities demonstrate that economic solidarity is a mode of enactment, in that it involves active engagement from its community members to partake in collective activities.

This paper seeks to highlight some of the ways in which agroecological farming can contribute to and build solidarity within a community. It also seeks to illustrate how classical economic behavioural assumptions, such as ‘specialization’, ‘competitiveness’, and ‘growth’, are philosophically rejected by agroecological thinking for ‘independence’, ‘collaboration’, and ‘self-sufficiency’. These concepts are understood by the agroecologists as a means of addressing economic challenges facing remote communities in the Cocoa Coast and are continuously applied in agroecological practice. In a region that has suffered from the economic devastation of the witch’s broom disease (Evans, 2016) and has been largely ignored by public policy, solidarity has been interpreted by our interviewees as a means of surviving and subsisting. However, it is important to note that there are limitations in agroecological farming’s ability to address these needs. A notable barrier mentioned by some of our interviewees is that the prerequisite of having access to private property to build solidarity presents a conundrum in that it excludes those lacking this access. Therefore, while agroecology seeks to build solidarity within a community, it would not be the only means of achieving it. Nonetheless, agroecology has demonstrated that it is one approach for building solidarity within a community and supporting those that have been socio-economically marginalized.

References

Evans, H.C. (2016). Witches’ Broom Disease (Moniliophthora perniciosa): History and Biology. In Cacao Diseases (pp. 137–177). Springer International Publishing. https://doi.org/10.1007/978-3-319-24789-2_5

Povos Da Mata. (n.da) A certificação. REDE DE AGROECOLOGIA POVOS DA MATA. https://povosdamata.org.br/o-que-fazemos/como-fazer/

Povos Da Mata. (n.db) Missão e Visão. REDE DE AGROECOLOGIA POVOS DA MATA. https://povosdamata.org.br/sobre-rede/missao-e-visao/

Sagastuy, M., & Krause, T. (2019). Agroforestry as a Biodiversity Conservation Tool in the Atlantic Forest? Motivations and Limitations for Small-Scale Farmers to Implement Agroforestry Systems in North-Eastern Brazil. Sustainability (Basel, Switzerland), 11(24), 6932–. https://doi.org/10.3390/su11246932

Watkins, C. (2021). Palm oil diaspora: Afro-Brazilian landscapes and economies on Bahia’s Dendê Coast. Cambridge University Press.